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Mas o que espero reencontrar? E como assim reencontrar? Como posso dizer ser isso um reencontro se é bem possível que as coisas que eu encontrarei na ribeira me sejam coisas que de verdade nunca vivi?
Eu vou navegar pelas águas do rio e imaginar ali, jovens, a minha mãe, meu pai, meus irmãos? Quem sabe eu toque a pele de uma velha árvore cismando que ela testemunhou a minha vida antes de ser a minha vida... Nos caminhos que ligam os lugares, que ainda não sei o nome, vou sentir as pegadas de meus antepassados e nas rodas de conversas vou ouvir os velhos e suas intermináveis histórias sobre a infância de meu pai. Mas que velhos? O velho agora sou eu. É possível que não haja mais nenhuma testemunha dos tempos meninos de meu pai que seja capaz de descrevê-lo moleque a nadar pelo rio na preamar. Mais vou me contentar em imaginá-lo e... sentir tanta saudade dele a ponto de chorar.
Decerto que um barco vai me levar e eu nessa ida sentirei o cheiro de óleo diesel incendiado pelos motores de naus barulhentas e velozes, muito diferentes do tempo em que a Missionária, carregada de telhas, desatracava do trapiche da olaria de meu avô, lenta, com grandes velas içadas, linda, linda...
Quando vou ter essa coragem de ir?
Quando?
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